Este assunto, à primeira vista parece bem fácil de se indicar uma solução: “Sim ou não”. No entanto, por tratar-se de resposta com embasamento bíblico é preciso cautela e emprego da devida atenção.
No Antigo Testamento havia pelo menos três
tipos de unção com óleo:
1) Unção comum: com azeite perfumado, como atitude de respeito, aplicada
àqueles que chegavam em visita. Quando a aldeia ou a família se encontrava
enlutada tal cerimônia era suspensa. E no caso a própria pessoa falecida
recebia a unção aromática conforme vê-se em Mc 14.8; 16.1; esta reverência era
feita como preparação para o sepultamento.
2) Unção medicinal: neste caso às vezes usavam água, o que dá a entender que era
também uma ação profilática. Entretanto, os registros indicam que na maioria
dos casos os antigos utilizavam o azeite. Alguns interpretes entendem que o
azeite em si, tinha ação emoliente e por isso tornava as feridas amolecidas, hidratadas
e suavizadas (Is 1.6; Lc 10.34).
Entretanto a unção de cura aplicada pelos servos de Deus, NÃO corresponde
à terapêutica medicinal, mas sim a de uma ordenança, um ritual de fé e
obediência a Deus. E era dessa maneira que os discípulos do Senhor Jesus Cristo
aplicavam a unção com azeite (Mc 6.13; Tg 5.14).
3) Unção Sagrada: lembrando que
o termo “sagrado” evoca a pessoa que se anula em sua individualidade e vive
constantemente em contato com o Divino, o Transcendente, (que nós cristãos
preferimos chamar de DEUS). Referia-se ainda aos arredores do templo como local
sagrado. Este tipo de unção tinha o propósito de dedicar uma peça ou apetrechos
de uso nas cerimônias religiosas (Ex 30.22-29). Assim, vê-se em Gn 28.18, que o
próprio patriarca Jacó ungiu com azeite a pedra que utilizara como seu
travesseiro em Betel, após a sua experiência de identificação daquele lugar
como casa de Deus e da porta dos céus. Neste tipo de unção com óleo (leia-se
azeite) encontramos como já discorremos no artigo “Consagração ao SantoMinistério”, aquela aplicada aos “Reis” (l Sm 9.16; 10.1; 16.1,12,13; 2Sm 2.7;
I Rs. 1.34; 19.16); Aos profetas (I Rs 19:16; I Cr. 16.22); Aos sacerdotes:
(Ex. 28.41; 29.7; Lv. 8.12,30).
Acreditamos que tais tipos de unção com
óleo, apontavam para o texto de Atos 10.38 que diz: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o
Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos
do diabo, porque Deus era com Ele”.
UNÇÃO COM
ÁGUA: a água tem importância vital para a vida, em se tratando às suas mais
diversas espécies; a água é indispensável para viver. Encontramos algumas
citações de cunho eminentemente espiritual na Bíblia: quando o profeta Ezequiel
teve a visão de “um rio divinal”, este corria por debaixo do templo Ez 47.1,2.
Alguns acreditam que a ênfase da água correndo por baixo do templo, indica a
limpeza espiritual que o local de adoração deve proporcionar aos que nele
adentrarem ou circularem pelos seus átrios.
Já no
Novo Testamento encontramos o próprio Senhor Jesus relacionando a água como
limpeza interior evidenciando o processo do poder vital que dela emana: “Disse Jesus: Quem crê em mim, como diz a
Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (João 7.38).
Embora
seja indiscutível a eficácia da água como elemento vital a todo o ser vivente e
alegoricamente como nos casos bíblicos relatados e outros, pode-se utilizar
deste relacionamento para apontar para a manifestação do poder espiritual em
Deus, “NÃO” encontrei menção bíblica para unção sagrada com água para unção de
reis, profetas ou sacerdotes, nem mesmo para unção de cura. A passagem que mais
se aproxima disso é aquele que se refere ao general sírio Naamã, que foi
instado a banhar-se 7 vezes no rio Jordão para ser curado de lepra, e logo após
o comandante humilhar-se até o último banho, a cura maravilhosamente ocorreu
tendo a sua pele renovada como a pele de um menino (2 Reis 5.1-14). Mas, não localizei
nem um dos patriarcas, nem Moises, nem Josué, nem um dos profetas ou servos do
Antigo Testamento, nem os apóstolos primitivos, nem mesmo o Senhor Jesus, utilizou
o elemento água para efetivar uma unção para ungir reis, profetas, sacerdotes,
discípulos, apóstolos, nem, tampouco, um simples servo.
Precisamos,
entretanto, considerar que a Bíblia mostra o apóstolo Paulo ensinando: “A letra mata, mas o espírito vivifica” (2Co
3.6b). Lembre-se que a maioria dos eruditos interpretam que quando Paulo
disse “letra”, referiu-se a letra da lei mosaica, que trazia condenação de
morte aos desobedientes. E quando disse, o espírito vivifica, referiu-se ao
Espírito de Deus. Ocorre que alguns dizem que espírito, em algumas traduções em
nossas bíblias, aparece em letra minúscula, por isso Paulo estaria apontando
algum princípio espiritual. No entanto, a palavra grega que se traduz como
espírito é “pneuma” que nunca aparece com letra maiúscula, nem mesmo quando se
refere a Deus, o que em nosso estudo não faria diferença alguma, já que aquele
que é guiado pelo Espírito Santo fala aquilo que Deus quer, diríamos até que
este é o porta voz Dele!
Não estou
mudando de assunto, apenas estou narrando um fato para ilustrar o tema em
estudo: certa ocasião chegou em nossa igreja um missionário que mantinha um
campo avançado no interior da África. Contou-nos aquele homem de Deus, que
muitas vezes em cultos de Santa Ceia eles utilizaram em lugar do pão, mandioca,
ou como dizem os nordestinos brasileiros macaxeira, ou aipim para os sulistas,
mas é a mesma raiz. E, em lugar do vinho tinto ou suco de uva, distribuíam ao
povo caldo de cana. Mas, liam o texto sagrado: "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste
pão e beba deste cálice (I Coríntios 11.28). E Deus os justificava, alegrava e
envolvia do mesmo jeito que nos alegramos quando participa,os da Ceia do Senhor
com pão simbolizando Sua carne e suco de uva simbolizando Seu sangue. Naqueles
lugares longínquos não havia pão, não havia suco de uva de forma alguma! Então
os cristãos cumpriam a ordenança da Ceia do Senhor, com o que eles tinham: a fé
em Nosso Senhor e Salvador Jesus!
Quero
dizer então que, embora não haja na Bíblia unção com água, para unção de consagração
de obreiros ou unção para cura divina, se houver extrema necessidade, que se
mude os elementos, mas que nunca se mude a essência da fé no Senhor Jesus! Não
se pode mudar os marcos antigos conforme a vontade ou criatividade de quem quer
que seja. Além disso, no livro de Provérbios encontramos a assertiva de Salomão: “Não removas os marcos antigos que puseram
teus pais” (Pv 22.28). Porque se formos mudando os limites preestabelecidos,
daqui a pouco estaremos pregando doutrinas tão distante das determinações
bíblicas originais que se parecerá, ou melhor dizendo, será de fato um outro
evangelho. Neste sentido o mesmo apóstolo Paulo nos admoestou: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos
anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema
(Gálatas 1.8) Esclarecendo
que a palavra anátema provém do termo grego “Anáthema”
que se traduz como coisa posta de lado; refere-se também a oferendas colocadas
aos pés de uma deidade, tais frutas, animais, depois armas e estátuas. Diz-se
anátema igual à maldição!
Neste sentido convém que nos
lembremos que haverá um dia da separação entre os que serviram a Deus fielmente
e os que não serviram. Então dirá o Rei
aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por
herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25.34). Note
que o Senhor Jesus entregará a herança não aos malditos e sim aos benditos!
Pastor Renato Moura