DISSE JESUS: "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA. NINGUÉM VEM AO PAI, A NÃO SER POR MIM (João 14.6).

sábado, 20 de janeiro de 2018

UNÇÃO SAGRADA - PODE O ELEMENTO ÓLEO SER SUBSTITUIDO POR ÁGUA? Resposta à questão lançada pelo irmão Marcos Roberto no artigo “Consagração ao Santo Ministério”.


Prezado irmão Marcos Roberto! 


Este assunto, à primeira vista parece bem fácil de se indicar uma solução: “Sim ou não”. No entanto, por tratar-se de resposta com embasamento bíblico é preciso cautela e emprego da devida atenção.

No Antigo Testamento havia pelo menos três tipos de unção com óleo:

1) Unção comum: com azeite perfumado, como atitude de respeito, aplicada àqueles que chegavam em visita. Quando a aldeia ou a família se encontrava enlutada tal cerimônia era suspensa. E no caso a própria pessoa falecida recebia a unção aromática conforme vê-se em Mc 14.8; 16.1; esta reverência era feita como preparação para o sepultamento.

2) Unção medicinal: neste caso às vezes usavam água, o que dá a entender que era também uma ação profilática. Entretanto, os registros indicam que na maioria dos casos os antigos utilizavam o azeite. Alguns interpretes entendem que o azeite em si, tinha ação emoliente e por isso tornava as feridas amolecidas, hidratadas e suavizadas (Is 1.6; Lc 10.34).  Entretanto a unção de cura aplicada pelos servos de Deus, NÃO corresponde à terapêutica medicinal, mas sim a de uma ordenança, um ritual de fé e obediência a Deus. E era dessa maneira que os discípulos do Senhor Jesus Cristo aplicavam a unção com azeite (Mc 6.13; Tg 5.14).


3) Unção Sagrada: lembrando que o termo “sagrado” evoca a pessoa que se anula em sua individualidade e vive constantemente em contato com o Divino, o Transcendente, (que nós cristãos preferimos chamar de DEUS). Referia-se ainda aos arredores do templo como local sagrado. Este tipo de unção tinha o propósito de dedicar uma peça ou apetrechos de uso nas cerimônias religiosas (Ex 30.22-29). Assim, vê-se em Gn 28.18, que o próprio patriarca Jacó ungiu com azeite a pedra que utilizara como seu travesseiro em Betel, após a sua experiência de identificação daquele lugar como casa de Deus e da porta dos céus. Neste tipo de unção com óleo (leia-se azeite) encontramos como já discorremos no artigo “Consagração ao SantoMinistério”, aquela aplicada aos “Reis” (l Sm 9.16; 10.1; 16.1,12,13; 2Sm 2.7; I Rs. 1.34; 19.16); Aos profetas (I Rs 19:16; I Cr. 16.22); Aos sacerdotes: (Ex. 28.41; 29.7; Lv. 8.12,30).
Acreditamos que tais tipos de unção com óleo, apontavam para o texto de Atos 10.38 que diz: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele”.

UNÇÃO COM ÁGUA: a água tem importância vital para a vida, em se tratando às suas mais diversas espécies; a água é indispensável para viver. Encontramos algumas citações de cunho eminentemente espiritual na Bíblia: quando o profeta Ezequiel teve a visão de “um rio divinal”, este corria por debaixo do templo Ez 47.1,2. Alguns acreditam que a ênfase da água correndo por baixo do templo, indica a limpeza espiritual que o local de adoração deve proporcionar aos que nele adentrarem ou circularem pelos seus átrios.

Já no Novo Testamento encontramos o próprio Senhor Jesus relacionando a água como limpeza interior evidenciando o processo do poder vital que dela emana: “Disse Jesus: Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (João 7.38).     

Embora seja indiscutível a eficácia da água como elemento vital a todo o ser vivente e alegoricamente como nos casos bíblicos relatados e outros, pode-se utilizar deste relacionamento para apontar para a manifestação do poder espiritual em Deus, “NÃO” encontrei menção bíblica para unção sagrada com água para unção de reis, profetas ou sacerdotes, nem mesmo para unção de cura. A passagem que mais se aproxima disso é aquele que se refere ao general sírio Naamã, que foi instado a banhar-se 7 vezes no rio Jordão para ser curado de lepra, e logo após o comandante humilhar-se até o último banho, a cura maravilhosamente ocorreu tendo a sua pele renovada como a pele de um menino (2 Reis 5.1-14). Mas, não localizei nem um dos patriarcas, nem Moises, nem Josué, nem um dos profetas ou servos do Antigo Testamento, nem os apóstolos primitivos, nem mesmo o Senhor Jesus, utilizou o elemento água para efetivar uma unção para ungir reis, profetas, sacerdotes, discípulos, apóstolos, nem, tampouco, um simples servo.

Precisamos, entretanto, considerar que a Bíblia mostra o apóstolo Paulo ensinando: “A letra mata, mas o espírito vivifica” (2Co 3.6b). Lembre-se que a maioria dos eruditos interpretam que quando Paulo disse “letra”, referiu-se a letra da lei mosaica, que trazia condenação de morte aos desobedientes. E quando disse, o espírito vivifica, referiu-se ao Espírito de Deus. Ocorre que alguns dizem que espírito, em algumas traduções em nossas bíblias, aparece em letra minúscula, por isso Paulo estaria apontando algum princípio espiritual. No entanto, a palavra grega que se traduz como espírito é “pneuma” que nunca aparece com letra maiúscula, nem mesmo quando se refere a Deus, o que em nosso estudo não faria diferença alguma, já que aquele que é guiado pelo Espírito Santo fala aquilo que Deus quer, diríamos até que este é o porta voz Dele!

Não estou mudando de assunto, apenas estou narrando um fato para ilustrar o tema em estudo: certa ocasião chegou em nossa igreja um missionário que mantinha um campo avançado no interior da África. Contou-nos aquele homem de Deus, que muitas vezes em cultos de Santa Ceia eles utilizaram em lugar do pão, mandioca, ou como dizem os nordestinos brasileiros macaxeira, ou aipim para os sulistas, mas é a mesma raiz. E, em lugar do vinho tinto ou suco de uva, distribuíam ao povo caldo de cana. Mas, liam o texto sagrado: "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice (I Coríntios 11.28). E Deus os justificava, alegrava e envolvia do mesmo jeito que nos alegramos quando participa,os da Ceia do Senhor com pão simbolizando Sua carne e suco de uva simbolizando Seu sangue. Naqueles lugares longínquos não havia pão, não havia suco de uva de forma alguma! Então os cristãos cumpriam a ordenança da Ceia do Senhor, com o que eles tinham: a fé em Nosso Senhor e Salvador Jesus!  
            Quero dizer então que, embora não haja na Bíblia unção com água, para unção de consagração de obreiros ou unção para cura divina, se houver extrema necessidade, que se mude os elementos, mas que nunca se mude a essência da fé no Senhor Jesus! Não se pode mudar os marcos antigos conforme a vontade ou criatividade de quem quer que seja.  Além disso, no livro de Provérbios encontramos a assertiva de Salomão: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais” (Pv 22.28). Porque se formos mudando os limites preestabelecidos, daqui a pouco estaremos pregando doutrinas tão distante das determinações bíblicas originais que se parecerá, ou melhor dizendo, será de fato um outro evangelho. Neste sentido o mesmo apóstolo Paulo nos admoestou: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema (Gálatas 1.8) Esclarecendo que a palavra anátema provém do termo grego “Anáthema” que se traduz como coisa posta de lado; refere-se também a oferendas colocadas aos pés de uma deidade, tais frutas, animais, depois armas e estátuas. Diz-se anátema igual à maldição! 
Neste sentido convém que nos lembremos que haverá um dia da separação entre os que serviram a Deus fielmente e os que não serviram. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25.34). Note que o Senhor Jesus entregará a herança não aos malditos e sim aos benditos!

                                                    
                                                     Pastor Renato Moura