QUANDO BATE A SAUDADE, EU COMO DOCE
Renato Moura
Quando bate a saudade e a solidão, eu como doce.
Porque não existem palavras para explicar,
Nem razões para calar, toda essa ansiedade.
E sem uma base calma, eu confundo a minha alma,
E no canto, desconto a perda de parte da sanidade.
E como doce, como se fosse doce, o amargo fel.
Para desmascarar ou mascarar, mais ainda, não sei,
Aquela figura que amei – a percepção da compleição do mel.
Então, vivendo nessa desilusão, a minha boca não fecha,
E levo dos outros aquela pecha: tem peso em excesso!
Eles não entendem a mágoa que expresso, e que sinto por dentro.
Não nos flancos, mas, bem aqui, no peito – no centro!
E enquanto sinto na ponta da língua o indizível e doce sabor,
Não mingua a umidade da felicidade de um bom-bocado de amor.
Mas, no fim, instigado, o tremor vem por inteiro.
Eu pego mais um brigadeiro, e chego a entender meus dois mundos.
E por uns segundos, tenho a impressão que passou o susto,
E, tento a todo custo, resistir o pudim de leite, mas, uma voz diz:
“Aceite, aceite”! Sem saber de onde vem aquele mando,
Peço para acompanhar, também... Uma tortinha de morango.
E disfarçando a minha tristeza, faço aquele bico da nobreza e digo:
“Une truffe de liqueur” ― O quê, não entendi! Diz o garçon.
E do alto e bom som, da minha adaptável cultura, desço com desenvoltura e esclareço:
― Não se avexe não, amigo! Uma trufa de licor.
Para não envergonhar o serviçal e, ao mesmo tempo, espantar todo mal de vez. Peço-lhe: ― Uma não. Duas, ou melhor, três.
É, só quem passou por isso sabe: como a solidão machuca!
Um desconforto geral, uma tristeza que dói no peito e sobe pela nuca. Porque, o amor perdido faz sofrer e golpeia a sensibilidade das pessoas. Uns se afundam no álcool, outros nas drogas, outros não saem mais na rua.
Eu? Eu como doce! Quando sinto a solidão rondar as minhas noites sem lua;
Para esquecer a falta de companhia; a saudade que me agonia...
Eu vou lá, na padaria. E depois de satisfazer minha ânsia louca;
Se ainda sentir falta daqueles lábios sedosos, dos beijos amorosos que recebi daquela boca...
Se ainda me desesperar porque há tanto tempo não tenho mais aqueles carinhos...
Sem dúvida eu peço: ― Por favor, me embrulha ainda, 1 quilo de beijinhos!
E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia (Lucas 21.34).
© Pr. R. Moura – Publicação livre – se indicado o autor.